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  • cartasliterarias

Para Mariá,

Não tenho ainda nenhuma palavra sua neste mar de significação que é o mundo, a não ser

"Mariá"- um som que começa articulado com a boca fechada: "M". Falo do som propriamente e não do nome da letra. "M". Pronunciado sem vogal. Sozinho. Este fragmento de você que pode

dar lugar a toda possibilidade de enunciação de si mesmx, tudo o que a boca guarda até então.

Eu penso que existe uma história guardada nela, "M", em você, como o início de uma

descoberta de um novo mundo do qual eu nunca tinha ouvido falar antes. Um silêncio que se

rompe na surdina. E que me veio, assim... do nada, me desafogar de mim.

Isolada em quarentena, parece que estou ficando surda do que o mundo grita, porque tenho a

opção de me fechar pra ele na minha privacidade fria. Aos pouquinhos... como numa imersão

sozinha, vou perdendo a vida que existe na Terra. Abafando vozes que não escuto. Mas eu

não quero isso.

Eu quero navegar pelas águas dos encontros mais profundos mesmo em tempos de tormenta,

descobrindo quem somos, nos descobrindo navegantes, pelo vai e vem dos fluxos da vida.

Quero ouvir o som que você traz.

Até agora, conheço você por "M" e já me pergunto como você vai. Como você vem e vai e vai e

vem, navegando. Me pergunto: Qual é a sua história, suas paixões, seus ódios... sua fruta

preferida... existem sons que te definem? Eu só tenho um "M" como a resposta do fim do

silêncio, até agora. E mergulho em busca de mais. Quem é "M" ,"M" ?

Leio mais um pouco do seu nome, passando pelo "ar" em busca do mistério que me tira o

fôlego. Não sei o que esperar dessa viagem. Quero desesperadamente respostas nisso que é

uma tentativa de te descobrir no mergulho. Até que, surpreendentemente, eu reconheço o

"M"ar em você. E quase transbordo, eu mesma, a coincidência emocionada desse encontro de

águas pelos olhos. Será que os fluxos da vida nos conectam propositadamente? Devo seguir

imersa ou navegando num barquinho à vela por essa corrente recém descoberta? Nem eu sei.

É misterioso esse início, como tudo o que eu quero descobrir.

Continuo do jeito que dá, pelo fluxo, pelo Mar. E vou descobrindo um "i" no abismo escuro do anonimato, um pingo de água e de coragem no "i" - os dois elementos dos quais eu preciso

para continuar a viagem, porque tenho sede e medo do desconhecido ainda. Obrigada pelo "i", Mari. Continuo seguindo através disso.

Vou e vou procurando por mais som na nascente desse montante de água que me convida ao

mergulho... E então, desemboco num "á". Num "á" que termina me dando o fôlego para cantá-

lo. Acentuado! "Á"! A palavra "acento" vem de "canere" (cantar, em latim). E é assim que seu

nome me devolve o ar, repuxando as origens dos sons que fazem da nossa vida um canto.

"Mariá". Finalmente nadei pelo mar de significação neste dia de hoje. E sabe o que eu descobri

nesse movimento todo? Estranhamente:


Nada de você ainda kk.

Que depois dessas braçadas em "mar" aberto, estive mergulhando no raso profundo. Descobri

o desconhecimento de você. Que talvez seu nome não seja esse de fato. Quem sabe você não

optou pelo pseudônimo. Não sei. Ou quem sabe ele seja um nome aleatório que você escolheu

colocar, sem te definir em nada. Não sei. Descobri que talvez ele seja homenagem a alguém.

Ou não. Ou seja, não sei mais sobre você do que a anunciação do seu nome pode provocar

em meus fluxos internos de pensamento. Mas já fico feliz desde já, pela sua existência ter

movimentado minhas correntes a buscar o mistério do outro - o seu, agora - apesar de, por

enquanto, não te ver chegar no horizonte de linhas e linhas de carta. Só acho que verei. E

espero ansiosa pela vinda, sabendo que quero seguir em frente na descoberta dos sons que

você enuncia na Terra, através das significações que eles deságuam sobre nós.

Adorei seu nome, tanto

quanto,

adorei te escrever.


Um abraço de pelo menos um metro de distância,

Oceana.

  • cartasliterarias

Olá Q,

Está em casa? Você o exame pra testar o vírus? Como tem se sentido emocionalmente? Se te acalma, de alguma forma, conheci algumas pessoas que contraíram o vírus e conseguiram se curar com umas semanas, espero que esteja melhor!

Como assim estabilizar? Olha minha história sobre a não mono é bem longa mas vou contar um

pouquinho, vivi um relacionamento de 4 anos e eu era uma pessoa um tanto tóxica, muito ciumenta etc mais pro fim dessa relação ‘’abrimos’’ o namoro e no meio disso ficamos com 2 pessoas e começamos a criar um poliamor, inclusive foi bem no meu primeiro período da faculdade. Foi uma experiência muito boa. Terminamos todos porquê eu comecei a me envolver demais com a menina )éramos 4 , 2 meninos e 2 meninas) e meu namorado )o dos 4 anos) não entendia como isso tava acontecendo e toda a descentralização da nossa relação também, também comecei a me questionar muito sobre gostar mesmo de homens )hoje vejo que foi uma grande auto-sabotagem pra lidar mais fácil com a vontade que eu tinha de terminar com ele) enfim, segui namorando essa menina por um tempo ficamos com um relacionamento aberto, acabou que ela terminou comigo uns 4 meses depois, rs. Dai comecei a pesquisar mais sobre a não monogamia os diferentes ‘’tipos’’ que existem, hoje minhas relações tem uma configuração de anarquia relacional que é basicamente não ter uma hierarquização em nenhuma das relações )isso consiste também em uma certa quebra do amor romântico, entender que relações amorosas não se sobrepõem a amizades, etc) Foi um processo muuuuito dificil mas muito delicioso. Hoje não me vejo numa relação monogâmica de forma alguma, não porque não me imagino me relacionando apenas com uma pessoa mas por entender que a liberdade do outro é importante, sabe? A não mono não é só sobre se relacionar com várias pessoas, liberdade de si etc, é principalmente pra mim, reconhecer a liberdade do outro e toda a questão politica por trás disso também. Afinal a monogamia nasceu do aprisionamento de mulheres dentro de casa pq os donos das terras precisavam ter a certeza de quem seriam seus herdeiros. Acho que pra começar a pensar na não mono vale a pena dar uma pesquisada e trocar sempre com outras pessoas, experiências, é um processo muito dificil e doloroso, mas vale muito a pena! Podemos discutir bastante sobre isso =)

Consegue explicar melhor sobre essa coisa do amor palpavel? Vixe, tem ascendente em gemeos,

minha ex tinha também haaha acho que entendo um pouco o que você quis dizer sobre lidar com

dramas, rs e o resto do teu mapa?

Sobre o mundo cruel, entendo é realmente doloroso ver esse tipo de coisa, mas tento não me dar por vencida e penso em como podemos modificar aos poucos isso, eu faço pedagogia então acredito muito na educação como parte desse trabalho de formiguinha, nossa sinto muita falta dos meus alunos. A quarentena de fato é um privilégio, e isso é imensamente triste porquê não deveria ser, né?

Deveria ser um direito assegurado a todos nesse momento.

Feliz que a carta tenha te dado um gás para responder!!

Mad men é legal sim, bastante frustrante no início mas a longo prazo, vale a pena. Eu amo animação, mas mais desenho mesmo, se tu curtir recomendo muito Steven Universe. Não tem na Netflix mas posso te mandar o link de um drive, se quiser! É um desenho que fala muito sobre questões sentimentais, contato com si mesmo e sobre os outros também, eu gosto muito.

Com carinho,

Vento Solar

  • cartasliterarias

Querida Helô,

melhoras para sua mãe, é terrível essa dor, às vezes também sinto e tenho a sensação de

sofrer as dores que não deveriam pertencer a mim por conta da idade, rs.

Falando em idade, me senti tão bem agora. Foram instalar a energia na minha casa, me

pediram para assim uns papéis e perguntaram “tem certeza que você é maior de idade?” rs,

quando falei que tinha 23 ele respondeu com “pensei que tinha 17”, ganhei meu dia rs.

Fiquei sabendo da UFRJ sim, fiquei até animada pensando que a UNIRIO faria o mesmo, quero

muito voltar a estudar, mas ao mesmo tempo penso em quem não conseguirá acompanhar

todas as aulas por vários motivos, eu mesma, vira e mexe tenho dificuldade em acessar a

internet, sem contar a mente que vive uma bagunça e nem sempre consigo me concentrar em

algo. É compreensível estarmos apenas com os projetos – que têm sido muito bons – e ter a

possibilidade de interagir com o pessoal, mesmo que seja virtualmente, pelo menos não

ficamos tão longe da nossa verdadeira realidade.

Ps: respondi assim que recebi, rs.

Com carinho,

Diana.

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